A
partir de análise da PNAD 2013 o Ministério do Desenvolvimento
Social demonstrou que a queda no número de filhos das famílias que
recebem o benefício do Bolsa Família foi maior que a média
brasileira, quando comparado com os dados de 2003. No geral a queda
foi de 10,7% no número de crianças de até 14 anos enquanto que
entre os 20% mais pobres foi de 15,7%. Considerando apenas no
Nordeste essa diminuição foi de 26,4%.
Segundo
Josué de Castro, conforme publicado em
seu livro “Fome, um tema proibido - 1983”, os altos coeficientes
de natalidade em grupos humanos subdesenvolvidos e famintos
constituíram-se na base de um princípio biológico – a teleonomia
– que é a propriedade que tem todos os sistemas vivos de
desempenharem as suas funções num ritmo e dinâmica que favoreçam
ao máximo a sobrevivência do individuo e sobretudo da espécie.
Para
ele um dos fatores mais atuantes neste mecanismo é o nível
deficiente de alimentação, principalmente a fome específica de
proteínas de alto valor biológico, fome que determina uma
fertilidade potencial mais elevada na mulher e uma maior capacidade
fecundante no homem, o que se pode resumir como sendo uma capacidade
de reproduzir mais intensa.
Ainda
segundo seu entendimento, se fossem modificadas, nas áreas
subdesenvolvidas, suas estruturas econômicas, favorecendo o seu
abastecimento alimentar adequado e, como consequência, a baixa dos
seus coeficientes de mortalidade, veremos a natureza agir
“teleonomicamente”, fazendo também baixar o coeficiente de
natalidade.
Ele
ainda chamava a atenção para o fato de que antes da redução dos
níveis de pobreza causadores da fome, essas populações tiveram
acesso aos antibióticos que, de alguma forma, reduziram a
mortalidade infantil para indivíduos que, no entanto, tinham baixa
expectativa de vida. Essa combinação teria contribuído para uma
expansão populacional na medida em que se garantia uma sobrevida
sem, no entanto alterar os baixos níveis de nutrição dos
indivíduos em idade adulta.
A
implantação do Bolsa Família permitiu uma mudança nas estruturas
econômicas das regiões subdesenvolvidas do país, ampliando a
possibilidade de acesso a alimentação e trazendo como consequência
a redução do nível de fertilidade e, por decorrência, do nível
de natalidade.
Não
tivessem os governos militares exilado essa grande brasileiro,
decerto poderiam ter aprendido com seu rico saber humano e
qualificado melhor as políticas públicas para produzir um duplo
benefício: redução da fome e consequente redução da expansão
demográfica.
Não
tivesse o governo do PSDB se negado a implantar um programa de renda
mínima, conforme a proposta da FGV ainda em 1996, e os segmentos
mais carentes da população teriam tido acesso a esse beneficio, com
a redução da natalidade já tendo sido observada, de forma natural,
há possivelmente duas décadas.
A
ciência de Josué e sua comprovação nos dados da PNAD jogam por
terra os preconceitos que os setores mais ingentes da nossa
população, em termos de preconceito, desinformação e má-fé
nutrem em relação a parcela de brasileiros historicamente
marginalizados do direito básico de acesso a alimentação.
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