quinta-feira, 30 de março de 2017

De volta ao século XIX? Eis o ponto de inflexão da nossa história.

Naquele tempo, o Brasil, com uma população estimada de 3 milhões de habitantes, a maioria rural, passava por profundas transformações. A vinda da família real em 1808, a proclamação da independência 1822, a promulgação da lei Áurea 1888 e a proclamação da República 1889, fecharam um século no qual o país começa Colônia e termina República.
Às mudanças na forma de governo não corresponderiam iguais mudanças na organização da economia. Durante todo o século foi preservada a matriz da época colonial: Extrativismo: apogeu e queda do ciclo do ouro, em Minas Gerais; Agricultura: o polo açucareiro no nordeste, o polo de desenvolvimento autônomo no Maranhão (apogeu e crise da economia algodoeira) e início da cultura do café, já na segunda metade do século; Comércio de escravos, o mais lucrativo negócio da época, responsável pela construção das mais sólidas fortunas e Mercado interno fragilizado pelo baixo valor monetário decorrente do uso da mão de obra escrava, incapaz de alavancar a produção industrial.
A Inglaterra, que pôs fim ao negócio dos traficantes de escravo brasileiros, passou a assumir, a partir da abertura dos portos e de outros tratados assinados posteriormente, o controle econômico efetivo do país.
Uma tentativa de industrialização viria com o Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Sousa), como financista e industrial. Responsável pela fundação do Banco do Brasil - posteriormente apropriado pelo governo brasileiro - e pelo início da produção de navios, era, infelizmente, uma honrosa e singular exceção ante à elite agrícola e escravocrata brasileira. Ele acreditava que canalizando para a expansão industrial os volumosos recursos dos traficantes, cujo negócio havia acabado, poderia expandir a produção industrial. Perdeu para a mente atrasada de uma elite retrógrada, que, como disse Frei Vicente de Salvador, viviam muito mais como usufrutuários da terra do que como senhores.
O baixo valor monetário da economia doméstica e a forte resistência política dessa elite, encastelada no poder, foram importantes obstáculos à industrialização brasileira. O pequeno grupo de endinheirados se satisfazia com a importação de produtos industrializados, concentrando seu poder político para preservar o valor monetário interno da economia primário-exportadora, mesmo que às custas de câmbios artificiais e da redução das taxas alfandegárias.
Porque retomar a história de século XIX no momento em que o país está no inicio do século XXI?
Em seu livro Poder Global, o professor José Luiz Fiori, já em 2002, destacava que o fracasso da utopia globalitária traria de volta, pelas grandes potências, a velha defesa do livre comércio, que havia sido testada no século XIX.
Se, no século XIX o Brasil lutava contra a elite agrária e o baixo valor monetário da mão de obra para implantar a indústria, no século XXI a estratégia terá que ser outra, considerando que o país já conta com fortes setores industriais e de serviços, além de um mercado interno capaz de oferecer escala para expansão da indústria nacional.
O século XIX parece chegar até o século XXI no Brasil, pelas mãos da Lava a Jato e ações decorrentes, a mais grave delas, o golpe. Essas ações atingiram duramente os 4 mais importantes setores da indústria do país: Petróleo e Gás, Construção Pesada, Agro-Negócio e a Indústria Naval.
A estratégia se completa com a terceirização, que vai reduzir drasticamente o valor monetário da mão de obra nacional e a reforma da Previdência cujos repasses com o pagamento dos benefícios representou, em 2012, para 71,8% dos municípios brasileiros, valores  superior ao repasse feito pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM). E é nestes municípios onde se concentra a população com menor esperança de vida ao nascer. Com a reforma proposta, que aumenta para 49 anos de contribuição e 65 anos de idade mínima, a tendência é que se torne muito mais difícil a aposentadoria, com impactos maiores nos municípios com baixa atividade econômica e menor esperança de vida. Com menos renda disponível diminui o tamanho do mercado nacional, comprometendo a industrialização. Cairão as receitas dos governos e aumentará a pobreza extrema. O Brasil de volta ao século XIX.
É importante registrar que no século XIX, o povo brasileiro, entregue a sua própria sorte, mesmo sendo a população brasileira algo em torno de 3 milhões de habitantes, a maioria morando nas áreas rurais, marcou a história do século com várias lutas e revoltas, entre elas a Farrupilha (RS), Revolução de 1817 (PE), Confederação do Equador(NE), Balaiada (MA), Sabinada (BA), Praiera (PE), Cabanagem (PA), Canudos (BA), entre outros.
Nos dias de hoje verifica-se que parcela expressiva da elite continua com a mentalidade daquele século, apoiando esse retrocesso.
Resta saber se esse jogo foi combinado com a parcela majoritária do os mais de 200 milhões de brasileiros,a grande maioria moradores urbanos. Como reagirão ao serem empurrados de volta ao século XIX? A direção desse movimento definirá o curso da história e o futuro do país.

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